Já se passaram 4 anos desde a última vez que eu havia participado do Campeonato Nacional de Acrobacias Aéreas, na época ainda com minha aeronave Laser230, a qual acabei por vender logo depois. Compromissos de trabalho, pandemia, construção de um novo avião, tudo isso me afastou dos ares desde 2018, até que esse ano resolvi voltar. Uma visita a um amigo de Rio Claro, Lidio Bertoline Neto, e um convite para fazer um voo no seu avião acrobático, um DR109, reascenderam uma chama que estava meio apagada, e depois de algum tempo se desenhou a possibilidade de participar do Campeonato com o avião dele. A ideia era perfeita, eu iria de carro e ele no avião, despesas rachadas e la nos dois competiríamos em categorias diferentes com a mesma máquina. Inscrições feitas, planos alinhados, vem a velha e conhecida Lei de Murphy, tanto eu quanto ele fomos acionados para voar profissionalmente… mais um ano que os planos iam por agua abaixo… Porem, na semana do campeonato, meu amigo e chefe Celso Roquetto, me agraciou com a chance de poder participar mais uma vez dessa disputa, uma mudança na agenda e lá fui eu. Porém só faltava um detalhe, o avião…. O Lidio não conseguiu a folga e realmente não pode ir com o DR109 para que eu pudesse competir, ai começou a caçada por outro avião , quem em sã consciência emprestaria um avião pra eu entrar em uma competição de acrobacias aéreas?? E sem treinar a pelo menos 4 anos?…. Pois esse amigo existe, e mais que imediatamente, o organizador do evento, amigo de longa data, Berguinho, me ofereceu seu Slick36.

Uma aeronave espetacular, que lembra muito meu antigo avião, o Laser230, porém mais moderno e capaz. Meus ânimos foram nas alturas, apesar de estar a tanto tempo sem voar, voando um avião “semelhante” ao avião que eu tinha tanta afinidade, seria como andar de bicicleta, e essa bicicleta eu conhecia bem!!

 Cheguei na Cerra do Cipó, onde aconteceria o campeonato, na segunda feira dia 01/08/22, a ideia era fazer o maior numero de voos que eu conseguisse, para poder ter alguma chance de trazer pra casa uma medalha, além das boas historias. Foi então que aquele tal de Murphy começou a me perseguir de novo, o canopy (aquele acrílico que fecha a cabine do avião), caiu no chão e sofreu uma trinca, ou seja, não dava pra voar o avião sem consertar aquilo. Corrida contra o tempo, levaram o canopy para BH na intenção consertar ou pelo menos remendar a tempo de voar.

O Campeonato teria início na quinta feira as 08:00am, e na quarta feira “mei dia” recebi a noticia de que o avião não ficaria pronto a tempo… um balde de agua fria, uma mistura de sentimentos, frustração, raiva, sei la, fiquei sem chão e sem avião. Alguns bons amigos vieram me oferecer seus aviões, Rambo, Tomazzetto, foram fantásticos, mas eu, sem voar, sem treinar… não queria abusar da gentileza deles e declinei dos convites agradecendo com todo meu coração.

Mas parece que tudo que acontece na vida tem um momento e um destino (já ouvi isso em algum lugar)… e o Berguinho, junto com meu pupilo acrobático Balila, me ofereceram a solução, um Pitts S2B, com Prefixo PP-ZUB.

 Sabe aquele avião icônico, que você conhece desde criança e sempre teve o sonho de fazer um voo?? Pois é, esse avião é o “ZUB”… daí em diante havia apenas um detalhe pequeno a ser superado… Os Pitts, são aviões mundialmente famosos por serem “complicados” para pousar. E eu, nunca tinha se quer entrado em um desses…hehehe onde eu fui me meter… ??

Quarta feira, fim da tarde, depois de pensar, repensar, desistir e animar várias vezes, dei partida no motor 6cilindros e todos seus 300 cavalos acordaram de imediato. La fui eu taxiando aquela lenda, devagar pela pista ate a cabeceira de decolagem, cheque nos cintos de segurança, manete a frente e mais que de pressa o biplano vermelho começa sua corrida pela pista, procurando um jeito de sair dela, ou seria pra cima ou pra um dos lados… mas e como andar de bicicleta ne? E a decolagem foi muito rápida. Subi com o lindo biplano vermelho ate uma altitude onde eu poderia finalmente experimentar suas características acrobáticas, como ele se comportava em algumas velocidades, fazer algumas manobras básicas como um Looping, um Roll, e uma HammerHead. Eu confesso que fiquei imediatamente apaixonado pelo avião, e acho que ele também gostou de mim.

Parti então para a sequência que eu teria que executar durante a competição, fiz duas vezes a sequencia e foi esse meu treino, não foi muito produtivo, pois além de não conhecer tão bem o avião, o fato de der que pousar ele após o voo, não saía da minha cabeça..hahaha. ingressei no circuito para o pouso bastante ansioso, não seria exagero dizer que minhas pernas estavam tremendo, avião emprestado, nunca havia voado, as coisas contra mim e a favor do velho Murphy estavam ficando desiguais, mas Lá fui eu ouvindo os conselhos dos velhos amigos e na minha cabeça o velho Xerife ia me falando oque fazer… gosto de pensar que meu velho está sempre comigo, e está mesmo. Mas encurtando a estória, existem 2 tipos de pouso, o bom e o ótimo, o bom e aquele que você sai andando do avião, e o ótimo e aquele que da para utilizar o avião de novo… sendo assim foi um ótimo pouso…hahahah

Pela manhã da quinta feira fizemos o Briefing de abertura do IX campeonato nacional de acrobacias. Ali estavam reunidos os melhores pilotos do país. Aviões dos mais modernos, e um mais lindo que o outro. Todos vinham de diferentes estados e haviam treinado muito para correr atrás desse sonho de ser campeão nacional. Os ânimos estavam a mil e após os sorteios das sequencias de voos, fomos nos preparar para o grande momento, a hora da verdade… O voo perante uma linha de juízes, os quais tem como função avaliar a qualidade visual das manobras individualmente, além da apresentação geral do voo.

Pelo sorteio fui o último piloto a voar categoria Sportsman entre sete competidores. Isso causa uma situação psicológica interessante, você assiste o vôo de todos seus concorrentes. Não sei se é uma vantagem ou não, mas de toda forma, no dia seguinte, a fila é invertida e o ultimo no sorteio  faz o primeiro voo.

Depois de assistir o voo da maioria dos meus companheiros de categoria fui para meu avião, me preparei. Tive uma boa conversa com ele, prometi que faria um pouso melhor…  Lá fomos nós, agora era tudo ou nada. As 11 manobras que devem ser executadas numa determinada ordem e posição com relação aos juízes, estavam penduradas no painel do “ZUB véi de guerra”. Como eu não havia decorado a sequencia, eu ia tocando a música com a partitura na minha frente…. Geralmente isso não fica muito bom, mas naquele dia, a musica saiu perfeita. As notas do motor e os desenhos no céu ficaram lindos como uma opera, ou como um bom e velho Rock´n roll!!!!

Final do primeiro dia e o resultado, medalha de ouro, e com uma certa vantagem numérica a frente dos outros competidores. Que alegria, comemoramos eu e meus amigos Binho, BolaFly, Joao, entre tantos outros, como se fosse a taça do mundo!! E pra mim ainda é. Algumas boas cervejas, uma picanha na chapa e fomos descansas, no dia seguinte tudo se repetiria.

Com essa vitória e com a vantagem de 3 pontos percentuais em cima do segundo colocado eu fiquei em uma situação relativamente confortável, eu só precisava repetir o voo do dia anterior e correr pro abraço. Como já havia sido combinado, meu voo foi o primeiro do dia, decolei para o box com o plano pronto, não errar. Mas, não seria tao fácil quanto eu planejara, meu amigo Guto Assis, a bordo de outro Pitts, modelo S2S, tinha errado uma manobra no dia anterior, e havia ficado em ultimo na contagem. Pois ele tirou um coelho da cartola, o voo dele foi impecável e ele atingiu 86% do score, enquanto eu tinha feito um bom voo, com 83,7%. E não foi só isso, Leo Gutierres que havia ficado em segundo lugar no primeiro dia pontuou 84%, e o Jorge que também não havia ido bem, pontuou acima de mim, ou seja fiquei em quarto no segundo dia.

Quando saíram os resultados a cabeça foi a milhão, eu tinha feito um bom voo, mas os outros fizeram voos excelentes, será que o campeonato havia escapado dos dedos? Olho todos os resultados, faço e refaço as contas e concluo que as boas notas deles não foram suficientes para me alcançar, mas ainda não havia saído o resultado oficial. Foi uma situação muito interessante, somente um dos três primeiros colocados (GuiXerife, BolaFly e LeoGutierres) repetiu uma colocação no dia seguinte. O Leo, que ficou em Segundo e depois em Terceiro.

Bom, depois de um dia esperando os resultados finais, enquanto eu julgava as outras categorias na linha de juízes, veio a confirmação de que eu havia me consagrado Campeão Nacional de Acrobacias Aéreas. Eu fiquei muito feliz com esse resultado depois de tantos percalços, mas os anjos sorriram pra mim, abençoaram o bom e velho PP-ZUB e nós juntos levantamos este troféu e trouxemos mais este título para São João da Boa Vista. Da minha parte fica o agradecimento a todos os que fizeram parte dessa conquista, minha esposa Leila Censoni que me da todo o apoio e assiste minhas piruetas de coração na mão, minhas filhas Giovanna e Larissa que são minhas maiores fãs e aos amigos que me incentivaram a não desistir e lutar mesmo na controvérsia!

OBRIGADO

Guilherme “Xerife” Censoni

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